LITERATURA NATIVA - ROMILTON SANTOS

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ROMILTON SANTOS (NEM): FATOS CRIADOS E CONTADOS DO VALE DO CAPÃO

NOITE DE LANÇAMENTO DO LIVRO




 SOBRE O AUTOR

Romilton Santos ou Nem, como é conhecido por todos, é um jardineiro fiel, atento às plantas e ao seu melhor crescimento. Foi assim que o conheci, depois ele me contou que também escrevia e estava reunindo “fatos criados e contados”, histórias aqui do Vale do Capão. Enfim, ele é um contador de histórias. Homem formado, pai de Nicolas, mas que mantém no coração a chama do menino, só crescendo por fora.

Minha tarefa foi revisar o livro já digitado e que foi escrito, inicialmente, em um caderno num torrencial de palavras saídas num fôlego só. Após algumas tentativas resolvi interferir o mínimo possível na oralidade da escrita, preservando a característica regional das expressões faladas, tão-somente acrescentando ou suprimindo poucas palavras e pontuação, para facilitar o caminho pelo texto.

Seu Dozinho e o autor NEM


Vários escritores redigiram livros caracterizando-se como personagens regionais, procurando registrar na escrita essas expressões carregadas do sotaque do lugar. Neste livro temos histórias contadas pelo nativo do Vale do Capão: Nem, da região da Chapada Diamantina, Bahia.

Então, vamos escutá-lo abaixo num trecho da história "As aventuras nos sonhos de um garimpeiro":
ilustração de André Vicente e Leire Manterola

"... Primeira semana da garimpada, Seu Onofre não conseguiu pegar nenhum diamante, mas sabia que daquela semana em diante tudo seria possível acontecer. É claro que dessa vez era coisa boa! Conclusão essa tirada por Seu Onofre sobre as condições do serviço e a forma pela qual se apresentava o cascalho, material que se dava origem ao diamante ou até mesmo o carbono, pedra de estrutura forte e semelhante ao ferro. Não tinha tanto valor quanto um diamante, mas é claro que alguma coisa ela valeria! O tempo se passa e Seu Onofre segue firme e forte sempre na esperança de conseguir alguma coisa que tirasse sua família daquela crise. Já se passaram cinco semanas e Seu Onofre sem conseguir encontrar nada.

No quinto dia da sexta semana uma luz se erradia no fundo da peneira, instrumento ou ferramenta usada pelo garimpeiro para procurar diamantes. Como dizíamos uma luz semelhante à de uma raio de sol bem forte resplandece no meio da água. Uma luz tão bem vinda que a partir daquele momento nada tinha espaço, se não a emoção do garimpeiro. Emoção seguida de várias coisas e sentimentos semelhantes, como suor, lágrimas e alegria. Todas essas emoções dominaram Seu Onofre ao ver aquela magnífica pedra depositada por Deus naquela peneira, ferramenta que ouviu e foi companheira de Seu Onofre naquelas cinco semanas anteriores, testemunha verídica da sua alegria e emoção vivida no quinto dia da sexta semana.

Na verdade a pedra brilhante não era tão grande, mas pra quem se encontrava na situação que ele vivia, era quase que um milagre. Desse momento em diante, Onofre já se sentia mais confiante e aliviado, afinal todo o seu trabalho tinha sido coroado - apesar de não ser uma pedra grande, mas valia alguma coisa. Todos estes acontecimentos ocorreram na quinta-feira da sexta semana, exatamente às três horas da tarde, o mês era setembro. Fim do expediente, Seu Onofre encerra seu dia com a sensação do dever cumprido, mesmo que no outro dia não pegue nada.

É sexta-feira, Seu Onofre acorda bem cedo visando sua partida pra casa e imaginando a alegria de sua mulher e de seus filhos, que o esperam ansiosos. Como é de costume todos os garimpeiros só trabalham até o meio-dia, porque à tarde é reservada para a viagem de volta. E assim aconteceu, ele arrumou todas as suas coisas e partiu de volta para casa com a sensação e certeza de que Deus realmente existe. Chegando em casa ao contar pra sua família todos sorriram de alegria. Agora só faltava contar pra Dona Corina, sua colaboradora alimentícia, que sem dúvidas iria pular de alegria com a novidade. E assim aconteceu, Seu Onofre foi até a casa da Dona Corina e contou-lhe a novidade que foi festejada por todos.

Como ele precisava vender a pedra para obter o dinheiro em suas mãos, os dois partiram no dia seguinte pra cidade de Palmeiras para vender o brilhante. Chegando lá, dirigiram-se para a casa do capangueiro (nome recebido pelas pessoas que compravam os diamantes). Como em Palmeiras só existia um, Seu Nésio, então foram ao encontro dele. Chegando lá, Seu Nésio observou o diamante com frieza e deu a sua oferta que era de duzentos mil cruzeiros, a qual foi aceita pelo Seu Onofre que o vendeu, fechando assim a semana com chave de ouro e como mandava o figurino!

O garimpeiro teria que pagar vinte e cinco por cento da quantia obtida. Sendo assim Dona Corina recebeu seus cinqüenta mil cruzeiros, dinheiro que pagaria todas as suas despesas fornecidas a Seu Compadre garimpeiro. Com todo esse dinheiro Seu Onofre não ficaria rico, mas pelo menos por uns três meses não passaria fome.

Como as coisas não poderiam parar, na segunda- feira seguinte Seu Onofre e seu filho partem de volta para o garimpo em busca de mais diamantes.  ..."


SOBRE OS ILUSTRADORES: ANDRÉ VICENTE E LEIRE MANTEROLA




André, Leire e Romilton Santos



André de Souza Vicente, natural de São Paulo (SP), veio com sua família para o Vale do Capão, Chapada Diamantina, em meados de 1992, tinha apenas nove anos de idade. Desde os sete anos sempre gostou de desenhar se tornando conhecido no Vale pelos seus trabalhos artísticos, o que não é novidade em se falando de artistas do Vale do Capão (lugar de natureza incrível), pois eles são muitos, em variadas artes e estilos, o que faz do lugar uma pequena bolha de talentosos artistas.


Neste trabalho de resgate das historias antigas do Capão ele contou com o trabalho de arte final da também amante do desenho: Leire Manterola Abadias, natural da Espanha, mais precisamente norte da Espanha (País Basco).

Leire, como André, é desenhista desde muito nova. Estudou maquetização gráfica de revistas e desenho gráfico. Moradora do Vale há dois anos, contribuiu com o seu talento na realização deste trabalho e sonho pessoal do autor do livro, não deixando de ser o sonho destes desenhistas também, que sentirão muito orgulho ao verem o produto final e ainda mais com as ilustrações criadas por eles. Vale ressaltar ilustrações essas feitas em software livre linux.

"Que o Vale possa sempre resgatar as histórias antigas, para que as gerações futuras saibam a história do lugar onde moram!"